A Inteligência do casamento VI - O sexo no casamento

Artigo de André Soares - 03/01/2018

Sempre faço questão de reiterar e alardear veementemente que, quando afirmo a verdade inconteste que “casamentos não dão certo, nem mesmo por amor”, não significa que este autor esteja fazendo apologia contra o casamento. Trata-se apenas de mais uma verdade inexorável, cujo reconhecimento é extremamente doloroso para a absoluta maioria das pessoas, tal qual profetizou o inigualável filósofo Friedrich Nietzsche ao desvelar à humanidade que “a verdade é feia”. E, parafraseando-o, afirmo também que “quanto mais verdadeira for uma verdade, mais dolorosamente insuportável será aceitá-la”. É por isso que a melhor maneira de convencer as pessoas é enganando-as com mentiras. Pois, contrariamente, “quanto mais mentirosa for uma mentira, mais irresistivelmente prazeroso será aceitá-la”. Considerando o meu compromisso com a verdade e não com o engano, assumo o elevado ônus em proferi-la. Como, por exemplo, ao revelar que, no que se refere ao matrimônio, o sexo fora do casamento é incomensuravelmente mais prazeroso.

Como sempre ressaltou o renomado e bem humorado médico-psiquiatra Flávio Gikovate, “apenas 95% dos casamentos são malsucedidos”. Portanto, como já demonstrei em outras oportunidades, o insucesso é incontestavelmente a regra absoluta dos matrimônios no país. E o mais importante: “o casamento fracassa quando acaba o sexo entre o casal”. Porque o sexo é a força motriz principal do casamento, para a felicidade, harmonia e união do casal. Mas, isso não significa que o casamento acabou quando os casais deixam de “transar”, mas sim quando o sexo deixa de ser prazeroso, o qual sempre acontece muito antes de se findarem definitivamente as relações sexuais entre os cônjuges; cujas “transas” vão minguando ainda por muito tempo, numa sofrível “tortura” sexual para ambos.

Isso porque se a força motriz principal do casamento é o sexo, por outro lado a força motriz principal do sexo é o “tesão”. Todavia, o matrimônio reúne uma miríade insuperável de negatividades que são inimigas de morte do tesão. Por isso, outra verdade dolorosa é que a instituição do casamento, em seu modelo político-social, é extremamente e irremediavelmente “brochante” para o sexo. Ressalta-se que a natureza psicossocial do casamento é tão anti-tesão que, além de inescapavelmente exterminar o sexo entre o casal, é capaz de destruir também o seu eventual amor remanescente. Ou seja, comparativamente com a vida extraconjugal, o sexo no casamento é absolutamente uma tragédia, sem exceções. E os cônjuges que alardearem publicamente o contrário, estarão mentindo raivosamente sobre sua infelicidade sexual conjugal, ou para encobrir o seu velado adultério.

É exatamente a realidade trágica da infelicidade do sexo no casamento que faz do adultério o pesadelo que mais aterroriza os cônjuges desde os primórdios. Nesse contexto, em que a degenerescência dos valores familiares da atualidade atingiu níveis críticos no Brasil, o adultério tornou-se prática comum, disseminada nos casamentos no país, praticado igualmente por homens e mulheres. Significa que a tragédia do sexo no casamento é, além de uma tragédia íntima do casal, uma tragédia familiar e social no Brasil e no mundo.

Como agravante, cada vez mais legiões de casais infelizes com o sexo no casamento buscam salvar seus matrimônios “brochantes”, recorrendo a infrutíferas tentativas para “apimentar a relação”, frequentando terapias de casal, conduzidas por psicólogos, ou pior: conduzidas por religiosos diletantes. Ledo engano! E os casais que ainda persistem no casamento sexualmente fracassado para manterem socialmente a fachada de um matrimônio feliz estão condenados a viverem como um casal de “irmãozinhos”, restando-lhes sexualmente a promiscuidade de uma vida clandestina de adultério.

Por importante, registra-se que a tragédia do sexo no casamento na maioria das vezes se instala na vida do casal muito antes do surgimento de outros gravíssimos complicadores, como a menopausa das esposas e a andropausa dos maridos. Isso sem contar a sofrível e latente frustação sexual dos cônjuges, por não conseguirem satisfazer em seus casamentos “brochantes” as suas inconfessáveis e reprimidas fantasias sexuais, contaminados pela permissividade sexual dos romances eróticos e filmes pornográficos.

Chegamos ao momento derradeiro em que se perguntará: “qual a solução para a infelicidade do sexo no casamento?”. A resposta é óbvia: “não há”. Contudo, a boa notícia é que existe outra realidade, em que casais de pessoas especialmente fortes podem viver juntos e serem plenamente felizes, inclusive sexualmente, por toda a vida. Trata-se de um contexto diverso, no qual pessoas que transcenderam a si mesmas e tiveram a inteligência e a coragem de Nietzsche para enfrentar e sobreviver ao desvelar da verdade insuportável da vida compreenderam o porquê que “casamentos não dão certo, nem mesmo por amor” - e o transcenderam.


 

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