Deixe a vida te levar?

Artigo de André Soares - 04/11/2021

 

 

“Deixe a vida me levar!” é provavelmente a mais famosa das canções do consagrado cantor Zeca Pagodinho, considerado o “rei do samba” no Brasil, que retrata e incorpora magistralmente faceta da mentalidade prevalente na sociedade brasileira, razão do seu estrondoso sucesso. Contudo, e a despeito do inigualável e inegável valor artístico desta canção, com a mais respeitosa vênia ao ilustre cantor, aos compositores desta música, bem como a todos os seus fãs e admiradores, os ensinamentos desta música constituem uma péssima filosofia de vida, não apenas àqueles que almejam uma vida próspera e alvissareira, como também às nações que auspiciam o progresso, a soberania, a paz e o bem-estar social. Porquanto professá-la é perpetrar contra si mesmo uma “roleta russa”. Ou seja, um suicídio anunciado.

Como é cediço, todas as pessoas, sem exceção, seguem uma filosofia de vida, mesmo sem ter consciência disso. Porque tanto o ato de viver como o de simplesmente existir nesse mundo requer um objetivo. Ou seja, um propósito. Aliás, você sabe qual é o propósito da sua vida? Porque o propósito do Brasil, como nação, está ostentado explicitamente em sua bandeira nacional: ordem e progresso. Todavia, para a consecução do propósito de vida, tanto das pessoas quanto das nações, é necessário ter-se uma estratégia, a qual se fundamenta numa doutrina orientadora que é a filosofia de vida. Ou seja, o propósito de vida é o objetivo e a motivação para se viver, a filosofia de vida é a teoria para alcançá-lo, e a estratégia de vida é o “modus operandi” adotado.

Assim, qual é a estratégia de vida decorrente da doutrina filosófica “deixe a vida me levar”? A resposta, no caso brasileiro, é consequentemente o conhecido “modus operandi” do “jeitinho brasileiro”, que é essa abjeta subcultura nacional que vem desde a formação da nacionalidade, incorporada ao seu DNA e racionalizada como orgulho nacional, razão pelo qual o Brasil é reconhecido internacionalmente por não ser um “país sério”. 

E qual é o fatídico destino que essa errática filosofia de vida conduzirá seus milhões de seguidores pusilânimes, que voluntariamente abdicaram do exercício do livre arbítrio e do comando de suas próprias vidas, para confiá-la plenamente aos desígnios do acaso?  A resposta é simples: o caos. E o generalizado colapso brasileiro é um infeliz exemplo disso.

Ademais, não há nenhuma outra espécie viva na face da terra, nem animal e nem vegetal, que “se deixa levar pela vida”; a não ser esses milhões de incautos que se autoenganam com esse engodo. Portanto, àqueles que almejam uma vida próspera e alvissareira e às nações que auspiciam o progresso, a soberania, a paz e o bem-estar social não resta outra filosofia de vida que não seja pelo culto ao firme enfrentamento dos óbices da vida, no sentido de vencer obstáculos e construir com muita luta, dedicação e perseverança o seu próprio destino, buscando conduzir a vida ao encontro da satisfação de suas necessidades e interesses.

De resto, e reiterando minha mais respeitosa vênia aos que pensem diferentemente, que a verdadeira sabedoria e o legítimo amor à arte saibam diferenciar a inegável beleza desta obra artística da sua equivocada filosofia de vida.

 


 

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