Chefia e liderança – O valor do comandante
Artigo de André Soares – 11/05/2011
“A tropa é o espelho do chefe” é uma das máximas mais verdadeiras sobre a carreira das armas. Quem souber empregá-la conseguirá avaliar com precisão e rapidamente o poder militar de qualquer tropa, organização militar, ou forças armadas, sem necessitar de uma investigação aprofundada. Porque todos os militares subordinados, sem exceção, ficam inescapavelmente aprisionados sob a influência da pessoa e valor dos seus comandantes, em tudo. Nos atos de heroísmo e bravura, mas também na incompetência e na corrupção. Isto decorre da vida profissional totalizante a que os militares estão submetidos, sob os rigores absolutos da hierarquia e disciplina militares. É exatamente por isso que outra máxima militar nos ensina que “as palavras convencem, mas o exemplo arrasta”, inclusive o mau exemplo. Portanto, em qualquer circunstância, seja qual for o efetivo, valor, ou situação de emprego das forças militares de qualquer natureza, estar-se-á sempre diante do retrato mais fiel da pessoa do seu comandante.
Exemplo que representou importante ponto de inflexão a favor do combate ao terrorismo internacional foi o sucesso da ação de inteligência militar dos EUA no Paquistão, que culminou com a morte de Bin Laden, líder do grupo terrorista Al Qaeda. Se o presidente dos EUA, Barack Obama, recebeu merecidamente os louros desse êxito, o seu mérito é exclusivamente de natureza política. Porque os principais responsáveis pela vitória dessa arriscada missão são os combatentes anônimos da tropa de elite da marinha norte-americana que empreenderam esse perigoso combate. Pois, não são os reis, presidentes, ou governantes, que lutam e morrem para vencer as guerras de seus países, mas os seus militares combatentes, com sua coragem e destemor. Portanto, como a tropa é o espelho do chefe, esses militares norte-americanos são o reflexo cristalino de seus comandantes, que certamente os “arrastaram” para o sucesso dessa missão com seus exemplos pessoais.
Todavia, esse episódio não é a regra, mas a exceção quando se trata da realidade das forças militares em geral, principalmente no Brasil, em que nossas forças armadas são não operacionais. Isso significa que elas são capazes de lutar, mas não de vencer, porquanto tropas operacionais são forjadas nas lides do emprego em combate e não dentro dos quartéis. Nessa conjuntura de ineficiência de emprego militar das forças armadas brasileiras, chegamos à situação alarmante em que os seus comandantes e toda a cúpula militar, em suas longas carreiras, nunca vivenciaram situação real de combate. Os únicos brasileiros da atualidade possuidores dessa inestimável e insubstituível experiência profissional militar são os nossos corajosos “pracinhas” da Força Expedicionária Brasileira (FEB). Estes conhecem o verdadeiro e “bom combate”, no qual muitos deles morreram na II guerra mundial em defesa do Brasil, mas que hoje estão completamente esquecidos. Todavia, os nossos comandantes militares das forças armadas ostentam medalhas, muitas medalhas.
A verdade é que a ineficiência é o mal que acomete as estruturas militares quando a carreira das armas se desvirtua e se afasta de sua atividade-fim que é o combate. Esse é o contexto atual, em que a carreira das forças armadas brasileiras tornou-se profissão desprestigiada, porém muito disputada por ter se transformado num excelente emprego, sendo dominada pelos carreiristas de gabinete, preterindo os verdadeiramente vocacionados para a vida castrense. Isso é o que vem ocorrendo há décadas, cuja crescente e grave evasão de jovens promissores de suas fileiras é hemorragia incontida que os atuais comandantes militares tentam esconder, mas não conseguem estancar. Portanto, confirmando a máxima inexorável, nossas forças armadas são exatamente o retrato mais fiel da pessoa de seus respectivos comandantes.
Se qualquer pessoa em sã consciência e voluntariamente não habitaria com sua família uma residência construída por um engenheiro que nunca construiu, e não submeteria qualquer de seus familiares a uma cirurgia realizada por um cirurgião que nunca operou, a triste verdade é que a defesa nacional está entregue a comandantes militares que nunca combateram. Quando a nação brasileira conclamar nossas forças armadas ao derradeiro combate em defesa do país, estaremos confiando a esses comandantes o destino do Brasil e a vida de nossos filhos. Todavia, eles ostentam medalhas, muitas medalhas.