O Brasil bipolar

Artigo de André Soares - 15/05/2018

 

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O transtorno Bipolar, tradicionalmente designado doença maníaco-depressiva, é uma patologia psiquiátrica caracterizada por variações extremas do humor, com crises repetidas de depressão e mania. Ocorre que, no Brasil, esta não é uma doença que está afetando apenas uma legião de pessoas. Porque um dos efeitos colaterais da atual conjuntura do colapso político-institucional de corrupção generalizada do país é que a República Federativa do Brasil, como estado constituído, está sofrendo dessa doença. Ou seja, o diagnóstico clínico atesta que Brasil está gravemente bipolar, e o prognóstico não sinaliza a possibilidade de reversão desse quadro patológico nacional, cujas “faculdades mentais” já estão seriamente afetadas. 

O Brasil bipolar contraiu essa doença porque sua sociedade naufragou no caos de corrupção nacional que ela própria fomentou e disseminou. Assim, vítima de seus próprios atos, a sociedade brasileira, como um todo, vem perdendo sua lucidez e equilíbrio emocional, desesperando-se ante à sua impotência em solucionar o inexorável caos da atual conjuntura. 

Verdade seja dita, nada mais justo e previsível para o destino de uma nação que é internacionalmente reconhecida como não sendo um “país sério”, e que continua a se orgulhar da sua abjeta subcultura do “jeitinho brasileiro”, por meio da qual busca o impossível: erigir uma nação desenvolvida, sob a égide do lema de sua bandeira “ordem e progresso”, por meio de paliativos, “gambiarras”, “gatos” e da mediocridade generalizada das decisões governamentais. 

Evidentemente que, desta forma, após mais de 500 anos de idolatria nacional do “jeitinho brasileiro”, não será hoje, amanhã, na eleição presidencial de 2018, ou nos próximos 500 anos, que o Brasil, mesmo se quiser, se tornará um país sério. Porque a gênese de um país soberano e próspero está em seu DNA. Significa, portanto, que todas as sociedades estão condenadas a serem o que de fato são. Afinal, não é por acaso que se eternizou a máxima filosófica que professa: “cada povo tem o governo que merece”. 

Destarte, ante à realidade fática do seu próprio colapso e das inerentes consequências nefastas dessa grave situação nacional, a sociedade brasileira desespera-se em sua bipolaridade, oscilando raivosamente seu exacerbado desequilíbrio emocional entre extremos opostos. Com isso, o raciocínio lógico e o debate racional e democrático de ideais desapareceram completamente do cenário nacional, em todos os setores, dando lugar ao radicalismo, à intolerância e ao preconceito. 

Assim, o Brasil bipolar se tornou um país de um passionalismo radical, no qual, por exemplo:

Ou se é a favor da Operação “Lavajato”, ou se é contra a “Lavajato”;

Ou se é a favor do Supremo Tribunal Federal (STF), ou se é contra o STF;

Ou se é a favor do Congresso Nacional, ou se é contra o Congresso;

Ou se é a favor do governo Temer, ou se é contra governo Temer;

Ou se é a favor do Partido dos Trabalhadores (PT), ou se é contra o PT;

E assim por diante ...

 

Isso, sem contar quanto aos governantes, autoridades e demais personalidades com alguma notoriedade. Assim, por exemplo:

Ou se é a favor do Lula, ou se é contra o Lula;

Ou se é a favor do deputado federal Bolsonaro, ou se é contra o Bolsonaro;

Ou se é a favor do Ministro Gilmar Mendes, ou se é contra o Ministro Gilmar Mendes;

Ou se é a favor do Juiz Sérgio Moro, ou se é contra o Juiz Sérgio Moro;

E assim por diante ...

 

Isso, sem contar ainda quanto ao debate de questões cruciais de âmbito nacional, como as diversas reformas estruturantes que se fazem urgentes e nunca avançam. Por agravante, não há exceção no Brasil bipolar nem mesmo para a denominada “grande mídia”, que deveria ser o último baluarte da lucidez nacional. 

Portanto, diante desse quadro degenerescente, obviamente que o futuro do país não será alvissareiro como se anuncia. Ao contrário, salvo uma reviravolta milagrosa, tudo indica o recrudescimento dessa situação. Resta, então, preparar-se para o agravamento do Brasil bipolar para os quadros de depressão e síndrome do pânico.  


 

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