O Brasil sem história - III

Artigo de André Soares - 11/05/2018

 

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"O povo que não conhece a sua história está condenado a repeti-la”é reflexão muito conhecida que lamentavelmente se aplica perfeitamente ao Brasil. Porque a sociedade brasileira desconhece completamente a verdadeira história dos governos militares, durante a ditadura militar, relativa aos crimes hediondos que foram cometidos pelos seus serviços secretos, especialmente pelo Serviço Nacional de Informações (SNI) e o Centro de Informações do Exército (CIE). Portanto, não há nada mais indigno ao Brasil e ao estado democrático de direito nacional que ter a “roupa suja” do país sendo “lavada” internacionalmente pela comunidade internacional, como acontece agora com a recente divulgação pelos EUA dos relatórios secretos da Central Intelligence Agency (CIA), revelando que o presidente general Ernesto Geisel, entre 1974 e 1979, sabia e autorizou a execução pelo CIE de mais de uma centena de seus opositores. 

Isso acontece porque pior que um país que não conhece a própria história é um país que a perdeu, e o Brasil é um infeliz exemplo dessas duas tragédias. Isso porque as informações sobre o período obscuro do país denominado “anos de chumbo” são originalmente tendenciosas e referem-se a um passado que existiu de fato, mas não de direito. Como a história oficial evidentemente é a dos vencedores, no caso brasileiro é a da Comissão Nacional da Verdade (CNV), que foi criada pelo governo Lula e concluiu suas atividades no governo Dilma Rousseff. Todavia, o Brasil é incapaz de contar até mesmo a sua história oficial. 

Porém, é a história verdadeira que a sociedade brasileira deveria se empenhar em conhecer. E está somente será resgatada ao país quando da destruição da maior caixa-preta da República Federativa do Brasil, que são seus serviços secretos, a partir da Agência Brasileira de Inteligência (ABIN), cujas atividades e documentos sigilosos permanecem inacessíveis, em abjeto e inaceitável vilipêndio aos princípios constitucionais. Isso porque o Brasil é o único país do mundo desenvolvido cujo estado de direito permanece refém de seus serviços secretos. E isso acontece porquanto a “comunidade de inteligência” que os governa, a qual é comandada pelos militares de ultradireita remanescentes do famigerado SNI, é a mais poderosa organização criminosa do país, que está completamente acima da lei. 

Portanto, há muito por fazer. A começar pela urgente revisão da Lei de Anistia (1979) pelo Supremo Tribunal Federal (STF); que, a pretexto de inaugurar uma era sem revanchismo político no país, degenerou-se em amnésia histórica, indústria extorsiva de indenizações contra o estado, e impunidade generalizada para assassinos, torturadores, sequestradores e terroristas. Destarte, a Suprema Corte tem a obrigação cívica de corrigir essa grave distorção histórica e jurídica, porquanto não existe no mundo civilizado anistia para mandantes e autores de crimes hediondos contra a humanidade. 

Urge também aos governantes do país levar à justiça os dirigentes da ABIN responsáveis pelos crimes da agência contra o estado, a exemplo dos perpetrados na operação Satiagraha, em 2008; os quais já foram condenados respectivamente pelo STJ (2011) e em última instância pelo STF (2015); conquanto, estranhamente, decorridos mais de 10 anos, seus responsáveis permanecem abençoados em absoluta impunidade, não tendo sido sequer denunciados pelo ministério público. 

Por derradeiro, importa ressaltar que por mais relevantes e patrióticos que sejam os serviços prestados ao país pelas forças armadas brasileiras; absolutamente nada justificará anistia ou impunidade para eventuais crimes hediondos praticados contra o estado e a sociedade por seus integrantes, mesmo a falso pretexto da “obediência devida”. Portanto, a sociedade brasileira auspicia de longa data o glorioso dia em que o Brasil terá dignos comandantes militares das forças armadas, que sejam abençoados com a sabedoria e humildade de grandes homens da humanidade, como o papa João Paulo II e o atual papa Francisco, que libertaram a Igreja do cárcere de seus próprios pecados, pois tiveram a coragem e a altivez de pedirem perdão à humanidade pelos hediondos crimes cometidos pela instituição que orgulham comandar. 

Até que isso aconteça no país, o Brasil sem história continuará revivendo seus próprios erros, e a sociedade continuará a caminhar às cegas para decidir mais um pleito presidencial, em 2018, incapaz de distinguir cidadãos de criminosos. Nossa verdade histórica é um livro de páginas arrancadas, e os poucos ainda vivos que as conhecem e não se prostituíram na corrupção assistem a um Brasil sem passado, ao qual resta apenas vagar sem identidade, surpreendendo-se vergonhosamente perante a comunidade internacional, ao ver sua “roupa suja” sendo “lavada” nos relatórios da CIA.


 

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